quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Gosto de ti, e então? II

Gosto de ti, e então?
A vida são encontros. A vida é quem connosco se cruza. É quem connosco atravessa os dias e com isso faz o sol brilhar. É com quem embatemos numa esquina e nos faz alterar o caminho, só porque alguém nos vai acompanhar. É o mudar planos e certezas, só porque sim.

A vida são desencontros. É o passar na rua certa um minuto depois. É olhar para o lado errado porque um som nos distrai. É o não ouvir o telefone nos vinte segundos de coragem insana de alguém. É escolher as escadas quando o elevador era a melhor opção.

A vida é uma junção de encontros.
E de desencontros.

- Rita Leston -

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Queres jantar?


Descobri há uns dias que nunca tinha convidado alguém para jantar. Não me refiro a amigas, nem amigos. Tão pouco à família. Mas a alguém que despertasse em mim um interesse especial, uma vontade de conhecer melhor. Não me estou a pavonear de tal feito. Simplesmente percebi que estou mal habituada.
Não sabia sequer como estruturar a frase. Apaguei vezes sem conta. E até perguntei a uma amiga: como se convida alguém para jantar?! E ela respondeu: Simples! Queres jantar? A simplicidade da escrita complicava ainda mais o meu primeiro convite. E a extrema dificuldade em ultrapassar essa barreira deixava-me um nervoso miudinho no estômago e a mão trémula.
A minha habitual descontracção e positivismo para com a vida, desaparecera perante uma trivialidade para alguns, uma completa novidade para mim.
A cada tentativa de escrever a frase certa, pensava na possível resposta negativa e isso fazia-me recuar. Depois, relembraram-me de que eu já as dera também e que ninguém morreu por isso. Faz parte.
E esta curiosidade fez-me pensar, para variar.
Pior, percebi que não foi só este convite que não fiz. Nunca fiz convites simplesmente. Nem para um café, nem para um cinema, nem para a praia, nem nas redes sociais, nada! Estou preocupada. Provavelmente sou um bicho em cativeiro com a mania que sou social. Pensei melhor. Sabem, não precisei. Não precisei de conquistar. Aliás, também percebi, que não sei conquistar. Sei lidar com a conquista, geri-la. Conquistar, não sei. Espero que hajam livros de cursos intensivos: como conquistar em 10 dias. Sei lá, se calhar há!
E por vezes a mão cheia de nada na altura do convite, até se pode transformar numa mão cheia de muito. Mesmo que não seja no que se esperava inicialmente.
Não ando ao sabor dos desejos e convites - dos outros -, simplesmente nunca senti vontade e/ou necessidade. E sentia orgulho de não ter corrido atrás de ninguém - na fase da sedução, claro. Que palermice. Ou não. Fui conquistada pelas pessoas que tropeçaram na minha vida.
Será a minha vez de tropeçar na vida de alguém?
Se se tratasse de um filme, veríamos a reacção dos vários personagens, sendo um filme da vida real, temos de aprender a lidar com os acontecimentos, com o bom e o mau que poderá resultar da pergunta.
Quantas oportunidades se perdem na vida, pelo arrastar e rasurar - pelos mais variados receios - de uma simples frase?
Inspira, expira... Queres jantar hoje?

sábado, 30 de agosto de 2014

Comecei a amar-te no dia em que te abandonei.

Comecei a amar-te no dia em que te abandonei.

Foram as palavras dele quando, dez anos depois, a encontrou por mero acaso no café. Ela sorriu, disse-lhe “olá, amo-te” mas os lábios só disseram “olá, está tudo bem?”. Ficaram horas a conversar, até que ele, nestas coisas era sempre ele a perder a vergonha por mais vergonha que tivesse naquilo que tinha feito (como é que fui deixar-te? como fui tão imbecil ao ponto de não perceber que estava em ti tudo o que queria?), lhe disse com toda a naturalidade do mundo que queria levá-la para a cama. Ela primeiro pensou em esbofeteá-lo e depois amá-lo a tarde toda e a noite toda, de seguida pensou em fugir dali e depois amá-lo a tarde toda e a noite toda, e finalmente resolveu não dizer nada e, lentamente, a esconder as lágrimas por dentro dos olhos, abandonou-o da mesma maneira que ele a abandonara uma década antes. Não era uma vingança nem sequer um castigo – apenas percebeu que estava tão perdida dentro do que sentia que tinha de ir para longe dali para ir para dentro de si. Pensou que provavelmente foi isso o que lhe aconteceu naquele dia longínquo em que a deixara, sozinha e esparramada de dor, no chão, para nunca mais voltar.

De tudo o que amo és tu o que mais me apaixona.

Foram as palavras dela, poucos minutos depois, quando ele, teimoso, a seguiu até ao fundo da rua em hora de ponta. Estavam frente a frente, toda a gente a passar sem perceber que ali se decidia o futuro do mundo. Ele disse: “casei-me com outra para te poder amar em paz”. Ela disse: “casei-me com outro para que houvesse um ruído que te calasse em mim”. Na verdade nem um nem outro disseram nada disso porque nem um nem outro eram poetas. Mas o que as palavras de um (“amo-te como um louco”) e as palavras de outro (“amo-te como uma louca”) disseram foi isso mesmo. A rua parou, então, diante do abraço deles.

Pedro Chagas Freitas
in "Prometo Falhar"

domingo, 10 de agosto de 2014

és feliz?

É preciso que de vez em quando, descansemos de nós próprios, olhando-nos de cima e de longe e, com o longínquo da arte, rir ou chorar de nós e por nós mesmos: é preciso descobrirmos o herói e também o louco que se dissimulam na nossa paixão do conhecimento; sejamos felizes, de vez em quando, com a nossa estupidez, para que possamos continuar felizes com a nossa sabedoria!

Friedrich Nietzsche

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Gosto de ti, e então?

"Preciso de espaço..."
"Preciso de um tempo..."
O amor não se compadece com espaços ou com tempos. O espaço é um "eu-já-aqui-não-quero-estar". O tempo é já uma dúvida cheia de certezas.
Quem ama quer estar, não precisa de ir ali pensar sobre o assunto. Tem as certezas do que quer e quando quer. Quem ama não gosta só. Nem sequer gosta muito. Ama e pronto. Com tudo o que vem de dentro e sente na pele.
Quem ama, quer estar junto. Precisa de estar junto. Quer ausentar-se e ir-ali-fazer-qualquer-coisa-sozinho mas depois apetece voltar a correr e contar como foi. Na urgência do beijo que não foi dado e na pressa do abraço que faltou.
Não preciso de espaço. Nem de tempo. Amo-te e pronto.
- Rita Leston -

quinta-feira, 29 de maio de 2014

Por este tipo de mulher... não te apaixones!


"Não te apaixones por uma mulher que lê, por uma mulher que tem sentimentos, por uma mulher que escreve...
Não te apaixones por uma mulher culta, maga, delirante, louca. Não te apaixones por uma mulher que pensa, que sabe o que sabe e também sabe voar, uma mulher confiante em si mesma.
Não te apaixones por uma mulher que ri ou chora quando faz amor, que sabe transformar a carne em espírito; e muito menos te apaixones por uma mulher que ama poesia (estas são as mais perigosas), ou que fica meia hora contemplando uma pintura e não é capaz de viver sem música.
Não te apaixones por uma mulher que está interessada em política, que é rebelde e sente um enorme horror pelas injustiças. Não te apaixones por uma mulher que não gosta de assistir televisão. Nem de uma mulher que é bonita, mas, que não se importa com as características de seu rosto e de seu corpo.
Não te apaixones por uma mulher intensa, brincalhona, lúcida e irreverente. Não queiras-te apaixonar por uma mulher assim. Porque quando te apaixonares por uma mulher como esta, se ela vai ficar contigo ou não, se ela te ama ou não, de uma mulher assim, jamais conseguirás ficar livre..."
Martha Rivera Garrido

terça-feira, 6 de maio de 2014

devia ser sobre o "dia da mãe", mas é algo mais...

Por falar no dia da mãe e porque gosto de me armar em esquisita e chegar atrasada cá vai....
"Para ti 
Querida, Há uns dias eu estava a fazer uma pesquisa na net, e enquanto escrevia no motor de busca, o Google mostrou uma lista das frases mais procuradas do mundo. Empoleirado no topo da lista estava “Como mantê-lo interessado?” Caiu-me a ficha. Comecei a desbravar inúmeros artigos sobre “como ser sexy e sexual,” “quando levar-lhe uma cerveja versus uma sandwich”, e “quais as maneiras de fazê-lo sentir-se inteligente e superior”. E fiquei irritada. Minha querida, não é, nunca foi, e nunca será uma tarefa tua “mantê-lo interessado.” Minha querida, a tua única tarefa é saberes no fundo da tua alma – nesse lugar inabalável que não é salpicado pela rejeição, perda, e ego inchado – que tu és digna de interesse. (Se te conseguires lembrar que todas as outras pessoas também são dignas de interesse, as batalhas na tua vida estarão praticamente ganhas. Mas isso dá pano para mangas para outra carta) Se confiares no teu valor, vais ser uma pessoa atraente no mais importante sentido da palavra: vais atrair um rapaz interessante e que vai querer passar a sua vida a investir no aumento do seu interesse por ti. Minha querida, eu vou falar-te desse rapaz que nunca vais precisar de o “manter interessado”, porque ele sabe que tu és interessante, e ele vai manter-se interessado. Não importa que ponha os cotovelos na mesa – desde que ponha os olhos na forma como o teu nariz se enruga quando te ris. E que não consiga parar de admirar-te. Não importa que não possa ir comigo ao futebol como sabes que eu adoro – desde que brinque com os vossos futuros filhos, e que te reveja neles, quer nas suas saídas brilhantes quer nas suas frustrações. Não importa que não seja muito ambicioso, desde que siga sempre o seu coração, e que o leve sempre de volta para ti. Não importa que não seja um homem forte, desde que te dê espaço para usares a força do teu coração. Não importa nada quais as suas convicções políticas, desde que todas as manhãs ao acordar te eleja para um lugar de honra em tua casa e no seu coração. Não importa qual o tom de pele dele – desde que pinte a tela das vossas vidas com pincéis de paciência, sacrifício, vulnerabilidade e ternura. Não importa se é católico, budista ou ateu – desde que tenha sido criado para valorizar o sagrado, e que como sagrado considere cada momento da vida que passa contigo, e que passam em família. E por fim, minha querida, se conheceres um homem que reúna estas características, mas que não tenha nada em comum comigo, não te preocupes, pois teremos sempre a coisa mais importante do mundo a ligar-nos: Temos-te a ti. Porque no fim, minha querida, a única coisa que deves fazer para “mantê-lo interessado”, é seres tu própria.
 Da tua eternamente interessada em ti, Mãe ."

segunda-feira, 28 de abril de 2014

A dor é linda

"Eu tenho um problema de dor. 
permanente. 
porque quero sempre mais, quero agora, quero tudo a que tenho direito. 
e já. 
mas a vida é assim: irónica. 
na maior parte das vezes junta-nos com as pessoas certas, no momento errado. too soon, or too late. será? nunca saberemos. 
porque somos nós que fazemos o nosso tempo.
 somos nós que o fazemos certo ou errado. 
somos nós que fazemos o cedo ou tarde. 
e não adianta perguntar, nem querer saber já se é este o caminho. 
porque não há problema em não saber todas as respostas. o desafio da vida é mesmo não sabê-las. é essa dúvida que traz a adrenalina das paixões loucas. 
dói? dói. 
magoa? magoa. mas, who cares? 
as respostas hão-de sempre chegar, às vezes quando menos se espera. 
e até lá, sabe bem? muito. 
és feliz? demais. 
então vai, aproveita o dia como se fosses uma criança. 
a dor é má? não, a dor é linda.
porque não é a dor triste de não encontrar quem se quer, não é a dor da frustração de não saber o que se quer. 
é a outra dor, a boa: a de saber que subimos ao ponto mais alto sem medo da queda. 
que entregamos tudo, mesmo com o risco de perder tudo. 
que damos o melhor de nós, mesmo com uma venda nos olhos: como se estivéssemos a brincar num quarto escuro, de mão dadas, abraçados, mas sempre aos trambolhões, a tropeçar nos móveis, a cair entre gargalhadas e dentes partidos.. dói? não. 
ama-se."